Enquanto não acaba
No meio de uma risada, originada por uma anedota boba que surgiu à mesa no meio daquele grupinho de pessoas, o olhar d’Ele passou por Ela e ali se paralisou. A gargalhada selvagem minguou até um suave sorriso, não mais sustentado pelas piadas, mas alicerçado em memórias que lhe surgiam na mente. Um passado se desenrolava em seu cérebro, belo em sua própria simplicidade, como um dia sem nuvens na qual se admira o sólido azul celeste. Ele flagrou-se banhado em uma viscosa nostalgia, daquelas que acompanham o fim de qualquer jornada.
Aquela cena, vários amigos queridos ao seu redor na mesa, lhe era muito familiar, embora alguns rostos fossem novos e alguns saudosos não mais fizessem parte da cena — ficaram pela metade do curso. Ao redor dele, todos eram importantes à sua maneira, e amados de uma forma particular. Ela, porém, era importante em todas as maneiras e amada particularmente. N’Ela se alicerçava tudo. Tudo começou com Ela.
Seu sorriso derreteu ao ver o rolo de memórias chegando ao fim. Algo estava acabando, e o temor que levasse todo o resto junto era uma sombra que tentava, em vão, esquecer. “Ainda seremos amigos quando sairmos daqui, certo?”, perguntava sempre. Recebia uma sorriso e um “é claro” muito assertivo como resposta — assim como todas as respostas dela eram. Mesmo assim, aquilo já havia sido dito a Ele antes, e no fim se foram, como temia. Tinha medo de perder aquela pessoa que se tornou tão essencial em sua vida. Esse pensamento o tirou de si. Apenas voltou ao próprio corpo quando ouviu a voz d’Ela o chamando. A mesa estava vazia e todos já iam a outro lugar. Levantou da mesa e Ela começou a seguir o restante do grupo. Parou para observá-La à sua frente por um segundo e voltou a sorrir. Talvez aquilo acabasse, mas ainda não havia acabado. E A seguiu.
De: J
Para: Ela
09. Out. 2022
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