Um Dia Chuvoso
O pequeno entrou cambaleante no ônibus, as pernas finas e sujas galgando degrau a degrau. Abandonava a chuva que caía furiosa do lado de fora. Um relâmpago cruzou o céu e o garoto se encolheu, como se algum deus estivesse o procurando e ele, foragido, não pudesse de forma alguma ser encontrado. As poucas pessoas que ocupavam o estreito recinto que era formado pelas metálicas paredes do ônibus, o acompanharam com o olhar enquanto ele punha no chão sua sacola de doces e pipoca e a arrastava até a catraca. O garoto estranhou. Parecia mais pesada que o normal. Da catraca, olhou para cima. Sem trocador. Ele então, sem pensar duas vezes, passou por baixo da catraca. O motorista tentou chamar sua atenção, mas não ousou repreender aquele corpo franzino. O garoto andou pelo corredor silencioso, deixando um rastro de água atrás de si que discriminava onde havia passado. Sentou-se em uma cadeira do fundo e colocou seu saco de mercadorias no colo. Primeiro tiraria um cochilo, depois vende...