Sou Eu?
Os dois assentos gêmeos logo atrás da porta central do ônibus pareceram brilhar quando Carlinhos entrou no transporte público. Àquela hora da manhã, indo para o trabalho, dois assentos vagos assim, lado a lado, era tão raro quanto encontrar uma barra de ouro dando sopa jogada pelo chão Passou a catraca empurrando quem estivesse em sua frente e ouvindo reclamações no caminho, e manipulando sua mochila para que não ficasse presa em nenhum lugar, tal qual um ninja. Anos de prática, sabia bem como lidar com aquele monstro de metal azul e branco. Chegou à catraca, mas não cedo o suficiente. Uma senhora, idosa, que caminhava como se o mundo estivesse em câmera lenta, lhe tomou a frente e começava a caminhar, com passos arrastados, em direção ao fundo do ônibus. Mas para Carlinho, aquela maldita iria tomar o maravilhoso lugar que ele havia separado em sua mente. Aquele assento do lado da janela, com outro assento vago logo ao lado, era dele; isso segundo ele próprio. Começou a futricar a moch...