Luzes da Cidade
Sempre gostei de olhar a cidade de uma perspectiva diferente. Esse é o motivo de eu amar viagens à noite. Lembro perfeitamente de estar no carro, às nove da noite e o sono começando a mordiscar meus tornozelos, mas sou incapaz de dormir, pois o vento frio da noite estapeia o meu rosto invadindo o carro pela janela da frente e meus olhos arregalados olham através do vidro da janela de trás. À frente da minha vista está a cidade. Posso ver do alto os postes de luz de sódio atirando sua cor laranja sobre a periferia, posso ver as luzes de freio de carros que vão, e a luz amarelada do farol dos carros que chegam, posso ver a luz das casas. Daquela distância a cidade é uma pintura de van Gogh; não era difícil ver o vento espiralando o sombrio éter noturno entre as luzes que se confundiam com estrelas, estrelas terrestres. A cidade está longe de ser perfeita. Tem problemas, pobreza, violência à rodo, mas, daquela distância, tudo isso é pequeno perante a grandeza e beleza daquele organismo e, naquele instante, é impossível não se apaixonar e achar que tudo vai dar certo.
Tudo isso, para mim, hoje é lembrança. Já não viajo à noite tem anos. No entanto, esse foi um sentimento que permeou minha infância e tenra adolescência (como eu chamo o período antes de surgirem os três pelos de barba em meu rosto) e é nesse sentimento que eu tento me agarrar quando perco as esperanças. O mundo é grande, e engolirá os pequenos. Não os pequenos na sociedade, os mais vulneráveis, mas os pequenos de espírito, mesquinhos que riem e pisam em cima do pilar desse organismo vivo que é a cidade: as pessoas que vivem nela.
Aí meu coração. Cada texto uma pedrada❤️
ResponderExcluirTô com mais vontade de fazer mais textos, só pra ver mais uns comentários desses.
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