Conto: A Estatueta (Baseado em Lovecraft)
O franzino engenheiro entrou na
sala do capitão, não esperou nem seu corpo inteiro estar dentro da
sala para apertão o botão que fechava a sala hermeticamente. Ele
arfava e com o rosto fino coberto de suor frio, ainda com algumas
mechas de cabelo lhe grudando na face. A face pálida lhe dava a
aparência de quem já morreu.
– Toda
a tripulação, senhor... Todo mundo... O Ignacio... – não sabia
se tinha começado a chorar ou se uma gota de suor lhe havia
escorrido para dentro dos olhos.
O
capitão apenas caiu em sua cadeira., afagando a volumosa barba
grisalha que emoldurava-lhe a face. À sua frente tinha todo o
panorama da galáxia, com todas as suas nebulosas coloridas e bilhões
de estrelas em fusão nuclear. Mas ele ignorava tudo isso. Encarava
uma estatueta que estava em cima do console, entre dois conjuntos de
botões. A imagem tinha uma cor verde-escura, como um pântano
amaldiçoado. Listras negras e iridescentes cruzavam verticalmente a
superfície da figura. Tudo no ídolo parecia errado, desde as
grandes asas dracônicas em suas costas, até sua bulbosa cabeça com
os tentáculos que lhe desciam até o peito e mesmo ali, na pedra,
pareciam se movimentar de forma enigmática. O corpo sórdido
lembrava uma figura humana decrépita, embora forte e musculosa.
Estava sentado sobre uma pedra, com as longas garras, que aparentavam
ser sua mão, sobre os joelhos; e as garras que pareciam ser seus
pés, pareciam encravadas no chão.
Ouviu-se
a primeira batida na porta, que cedeu levemente, mas resistiu.
Aquilo, porém, não ia durar muito.
O
engenheiro se aproximou do console. O corpo do capitão tinha
começado a tremer e ele temeu que a influência do monstro tivesse
chegado até ele, mas quando chegou ao seu lado, não ouviu a oração
que aqueles invadidos entoavam. Na verdade o capitão chorava.
– Capitão!
- ele disse com uma mão no ombro do homem – O que faremos agora?
– Como
ele é? - perguntou, entre soluços.
– Eu...
não sei. Ele é... grande. Grande demais, mas parece que a própria
realidade se dobra para ele passar. Devia ver o que ele faz com o
corredor. Parece que não... não existem sequer ângulos perto dele.
O
capitão levantou da cadeira e abraçou o engenheiro. O jovem apoiou
a cabeça no ombro dele e recomeçou a chorar, sem notar que o
capitão não chorava mais. Os olhos do engenheiro estavam cerrados
quando veio a segunda batida na porta, logo ele apenas ouviu o som do
impacto estrondoso e o barulho metálico da porta cedendo mais um
pouco.
Quando
o barulho cessou, os olhos do jovem abriram arregalados e surpresos.
Tossiu gotículas de sangue que mancharam o chão; sua respiração
começou a ficar difícil. Ele podia sentir o metal frio da lâmina
dentro do seu pulmão. Empurrou o capitão, deu dois passos para
trás, antes de tropeçar e cair sentado. As mãos nervosas tateavam
as costas em busca do cabo da faca, ainda encravada. Quando
encontrou, arrancou das costas, soltando um urro de dor. Apontou a
lâmina manchada com seu sangue para o capitão.
– Por
que!? – gritou.
O
capitão foi até o console, com o rosto ainda úmido das lágrimas
que havia chorado minutos atrás, e pegou a estatueta. De frente para
o engenheiro, ele a segurou na altura do ventre.
– Cthulhu
fhtagn! – disse, resoluto.
Veio
a terceira batida na porta, que voou por toda a extensão da ponte de
comando como se fosse feita de papel. E então veio o fim.
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