Maluco é maluco
Eu estava, sentado
num banco de uma praça, lendo O Código da Vinci.
Não que eu ache que o livro em questão tenha influenciado, poderia
ser até mesmo O Pequeno Príncipe
que teria acontecido a mesmíssima coisa. Afinal, maluco é maluco.
Aquele
era um típico dia de verão. Sol forte, ventos revoltos, e a praça
lotada. Principalmente crianças num parquinho.
E
foi nesse ambiente que chegou um maluco de sobretudo e boné e sentou
ao meu lado. Claro que eu me afastei, o que foi inútil, já que ele
se aproximou de novo. O
maluco estava com um cheiro de suor tão forte que quase me fez
querer levantar e correr. Infelizmente minhas boas maneiras não me
permitiram.
– Psiu
– ele fez.
Apenas
ignorei e continuei lendo o livro.
Talvez ele vá
embora, pensei.
– Ei,
cara.
Droga, ele não
vai embora, fechei o livro e
olhei para ele.
– Vejo
que você está abrindo sua mente para os segredos do mundo – ele
disse sussurrando e olhando para o meu livro. Admito que por
um instante eu fiquei bem
assustado, mas só durou dois segundos e depois tive que me conter
para não rir. Decidi ver até onde ele iria, claro
que sempre preparado pra correr,
– Como
assim? - perguntei no meu tom de voz normal.
O
cara quase se joga no chão. Como se tivessem acabado se soltar uma
bomba atômica logo atrás de nós. Olhou desesperado para os lados,
baixou o boné e subiu a gola do sobretudo. Estava fazendo quase
quarenta graus, aquele cara devia suar em bicas embaixo daquilo.
– Fala
baixo, cara! - ele disse sussurrando e chegando mais próximo ainda
de mim – Você não sabe quem por de estar te escutando.
Ele
ficou em silêncio olhando para mim. Não entendi de cara, mas,
depois de um tempo, percebi que ele estava esperando que eu
repetisse.
– Como
assim? - perguntei novamente, dessa vez sussurrando.
– Não
vê, mesmo com o livro? As sociedades secretas. Elas estão entre
nós. Querem dominar o mundo, mas nós não vamos deixar.
Aquilo
me soou tão absurdo que me respondi apenas negando com a cabeça, se
dissesse um “a” que fosse eu explodiria em gargalhadas.
– Isso
aí garoto! Vamos juntar a resistência na minha casa às quatro,
amanhã. Se você quiser fazer parte disso, é só aparecer – e se
levantou ainda com a gola do sobretudo erguida.
E
ele saiu andando rua abaixo. Me deixou no banco rindo. Já nem
lembrava mais qual o capítulo onde eu estava. Continuei olhando ele,
até que um carro, parecido com uma ambulância, parou ao lado dele.
As pessoas que saíram de lá o
colocaram numa
camisa de força e, apesar da resistência e dos gritos ensandecidos
dele, o colocaram dentro da perua e zarparam rua abaixo.
Aquilo
me deixou encasquetado. Mas, afinal, maluco é maluco, né?
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