O homem frio
Por circunstâncias que não vem ao caso, me vi congelado. Senti o frio tomar meu corpo das pontas dos meus dedos até o topo de minha cabeça. Meus pulmões, antes volumosos e potentes, se amofinaram sem o tão amado ar o visitando constantemente. Minhas cordas vocais enferrujadas não conseguiriam emitir mais som que um velho violino de cordas estouradas. Apenas meus olhos se moviam, mas tão imperceptivelmente que apenas alguém bem atento a mim poderia notar, o que nunca ocorreu… até ele surgir. Estou sentado nesse banco e nessa pose provavelmente por mais tempo do que você tem de vida. Pernas cruzadas, braço esticado sobre o espaldar do banco e a roupa meio amarrotada pelo jeito torto que estou sentado. Pessoas passam por mim o tempo todo e, pelo tempo que as vejo, consigo as reconhecer. O homem apressado com uma pasta. A moça loira de salto muito alto. O pálido, que cada vez está mais cadavérico. As considero até amigas. São meu passatempo e minha diversão pela eternidade ficar conjectur...