Insista, persista


Sair de casa pela manhã no dia em que passa o caminhão do lixo é sempre um prazer, para não dizer o contrário. É quase certo você se deparar com cenas como uma sacola verde, bem fechada, repleta de tapurus do lado de fora. Realmente o tipo de cena que se deseja às sete horas da manhã logo após o café.

Como tudo que é ruim pode piorar, surgiu um filhotinho de vira-lata caramelo, modelo rebaixado, perninhas curtas, focinho comprido e pelo falhado por algum problema de pele. Veio saltitante acompanhando e brincando com uma senhora de bolsinha e óculos de sol que lhe ignorava sem dó, caminhava evitando até olhar para o cachorro e parou no ponto de ônibus. Logo o filhote cansou dela e pareceu pensar o que faria a seguir; até que ergueu o focinho, pareceu farejar o ar e sua atenção tomou outro rumo. O saco de tapurus. Correu na direção dele e começou então um tal de esfrega-esfrega, mordiscado, arrastado; estava claro que o filhote tava se esforçando para rasgar o plástico, mas não ia ter sucesso nunca. Todo o efeitos que suas investidas tinham era trazer as larvas ao chão e o mau cheiro ao ar. Uma crítica ao desmiolado filhote começou a ser formulada em minha mente enquanto eu observava o derrotado vira-lata subir a rua; não pude completar o pensamento por ele esbarrou em uma parede, um nome. E aí eu percebi que eu não era lá muito diferente daquele filhote, que já tinha derrubado meus tapurus metafóricos de alguns sacos de lixos metafóricos. Calei minha mente e torci para o vento levar o cheiro embora.

O ônibus logo apareceu na esquina e eu agradeci a Deus, pois logo atrás de mim vinha o filhote voltando. Ainda pude ver ele remexendo na sacola antes de desaparecer quando o ônibus virou na Siqueira Campos.

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