Pobre Aldeota
Ficar em silêncio é uma arte. E de forma alguma é uma arte fácil. Sua dificuldade varia de sujeitos para sujeitos, mas certamente a maior parte das pessoas quer ser ouvida, expor o que está rolando de uma lado ao outro de seu crânio.
Alguns têm dificuldade em falar, em expor seus sentimentos e pensamentos e seu coração fica carregado como uma esponja dentro d'água, só que em vez de água ele está saturado de xingamentos, reclamações, ideias e cantadas. Já alguns outros têm dificuldade em calar a boca. Claro que existe todo um espectro de pessoas entre esses dois extremos e gosto de reparar em como essa dificuldade em calar a boca pode ser prejudicial para alguns, em geral quanto mais arrogante, mais ignorante e mais despreparado, mais prejudicial é quando esse ser abre a boca e não a fecha mais. Tenho alguns espécimes que me dão material para refletir. Amigos, parentes, pessoas com as quais convivo. Não sou um perito, nenhum expert, mas tenho alguma experiência em reconhecer essas criaturas, e algum tempo atrás eu bati o olho em uma manchete e soube no mesmo instante que devia se tratar de um espécime interessantíssimo.
"Fortaleza se tornou uma grande aldeota", disse o senhor deputado na notícia, acusando que quem diz que as obras da gestão atual da prefeitura se concentram apenas na Aldeota - área nobre - nunca deve ter pisado na periferia, já que as obras do prefeito anterior somada às obras do atual haviam tornado obsoletos o conceito de "periferia" e "área nobre", o que dá a entender que ele próprio nunca desviou o seu carro na direção de uma periferia. Esse deputado caracteriza bem um espécime de quem não consegue se calar e deixa vazar pela boca qualquer ideia e conceito podre que tenha sem pensar duas vezes. E não precisa ser um estudioso como eu para reconhecer. Basta ler a notícia e perceber que outro paladinos de Sartre vieram em defesa da gestão atual, e nenhum deles virou manchete.
Não fiz um levantamento das obras realizadas na gestão atual, afinal sou um simples e burro escritor e não um jornalista, mas posso falar alguma coisa como morador da periferia que sou, e admito que fiquei preocupado com as falas do deputado, pois, como morador da periferia, sempre ouvi que a Aldeota era o ápice da nobreza alencarina, habitada apenas por políticos, ricaços e herdeiros. Nunca pus as solas de minhas patas nas áreas da antiga regional II, mas já andei bastante por periferias em geral, e me preocupei, pois não imaginei que a Aldeota estivesse tão decadente.
Mando boas energias para o habitantes desse nobre bairro da cidade, para que nenhum carro importado caia em um buraco, para que nenhuma madame perca o salto numa torrente de lama, e para que nenhum empresário encontre um assaltante em sua condução - sua BMW.
Como sempre trabalhando com pautas frias e notícias requentadas. Mas hoje me veio isso na cabeça e precisei escrever uma crônica. A notícia abaixo:
"Fortaleza se tornou uma grande Aldeota", diz vereador ligado a Sarto em resposta a Cid
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