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Mostrando postagens de fevereiro, 2020

O Velório

Quando a primeira pétala caiu, foi como se uma onda varresse a realidade, levando parte das cores embora. Quem viu isso em primeira mão foi Pedro que, durante os quatro dias, observou a flor em seu recanto, uma caixa de sapatos com um sorriso desenhado na lateral. Eram as férias de julho, e quando Pedro não estava do lado de fora “procurando algum machucado” — como sempre dizia sua mãe — ele estava olhando a flor que ficava na janela. Ele a achava engraçada, pois sempre que a olhava tinha a impressão de que ela estava dormindo. — Mãe, essa tal flor não acorda nunca? Perguntava de vez em quando, o que fazia a mãe, uma mulher de meia idade, alguns quilos acima de seu peso ideal, sorrir. Ela sempre imaginava que o garoto estava esperando a flor tirar as raízes da terra e sair andando da caixa de sapatos que havia adotado como sua casa. — Espere. Quem sabe um dia… Era o que ela sempre respondia e voltava aos afazeres domésticos, não antes de dar um grande abraço no filho...