Cinco, dez ou vinte e cinco
Dentre as experiências requentadas que a retomada às atividades presenciais me propiciou, uma delas, e talvez a mais significativa, foi andar de ônibus. Certo dia eu entrei e sentei em uma cadeira próxima à janela, perto do fundo do veículo; algumas paradas à frente subiu um sujeito com uma mochila jeans fechada. A população do ônibus, treinada por anos e anos de jornalecos pinga-sangue, e séculos de racismo, se retesou nas cadeiras e escondeu seus pertences de valor — smartphones — dentro das calças. O maltratado jovem, que mais aparentava a meia idade, passou pela catraca, abriu a mochila revelando que seu conteúdo eram apenas pacotes de amendoim e os saiu distribuindo de mão em mão. Enquanto passeava no corredor do ônibus, contava a ensaiada história sobre os benefícios do amendoim para o coração, como tinha gorduras boas e até sobre ser afrodisíaco — e nem me pergunte o motivo para alguém comprar um afrodisíaco dentro de um ônibus —, logo passou recolhendo e dizendo que também ace...